Como ser diplomata e construir sua família? Como cuidar dos filhos?

Como ser diplomata e construir sua família? Como cuidar dos filhos?

 

 

Será que construir uma família é realmente incompatível com a carreira diplomática? A história do diplomata Hélio Franchini é um exemplo de que a resposta é negativa. Porque há, sim, como casar, ter filhos e ser um diplomata brasileiro bem sucedido. Vale ressaltar que a esposa de Hélio, Ivy Turner, não é diplomata. Ela é consultora especialista (com trabalhos realizados na UNESCO e na OCDE). Eles estão juntos há 20 anos, têm duas filhas pequenas e contaram qual o segredo para conseguir isto: compreender que a diplomacia é um projeto conjunto, um plano familiar. Com essa base sólida na estrutura do relacionamento, a conciliação torna-se menos desafiadora. Em palestra para o curso IDEG, Hélio e Ivy dividiram seu relato em quatro etapas: concurso, carreira (de ambos), remoção e filhos.

 

No período de preparação para o CACD, caso você já tenha um(a) parceiro(a), é fundamental que haja diálogo. É muito comum que, após a decisão dos estudos para diplomacia, a família torça o nariz. Não que seja um sinal de reprovação ou falta de apoio, mas sim de incompreensão em relação à carreira diplomática. Dessa forma, sentar para conversar e explicar todas as fases e expectativas é o mais importante nesse momento inicial da caminhada árdua rumo ao Itamaraty.

É necessário ter paciência com o processo – que, na maioria das vezes, é realmente longo. Por isso, a linearidade do apoio familiar pode ser um fator decisivo no seu desempenho, pela influência na sua saúde mental. Em um cenário ideal, o suporte do núcleo familiar, a inspiração de pensar no futuro e o ato de deixar a cabeça trabalhar em tranquilidade trabalham em conjunto. No caso de Hélio Franchini, foram quatros anos tentando, e Ivy sempre esteve presente, insistindo para que ele não desistisse e torcendo pelo seu sucesso.

 

Após a aprovação, a realidade é outra. As preocupações, a partir de então, estão de acordo com as decisões tomadas para o rumo da carreira do(a) diplomata. Deve-se ter em mente que as necessidades da família é que são os guias, decidindo, sempre, com o indispensável diálogo já citado na etapa anterior. Outro fator a se levar em conta é que o cônjuge acaba por se tornar um diplomata também. Isso ocorre devido à rotina social, com o networking que é criado ao longo de eventos e reuniões. É clichê, mas os dois têm de estar presentes, e isso permite abrir novas frentes e criar mais possibilidades de contato. Ainda, o cônjuge compartilha as responsabilidades da carreira ao ser proibido, também, de emitir opinião. É demandada uma postura jurídica de toda a família no exercício da profissão.

 

No que diz respeito à profissão do cônjuge e as remoções, esse é um assunto sensível, já que nem todos conseguem seguir suas carreiras em outros lugares. Há de se pensar no “timing” da vida profissional de ambos. Avaliar o tempo necessário para total estabelecimento em novos países, até que seja viável a atuação no seu trabalho, é uma análise recomendável de ser realizada com ajuda profissional. Hélio e Ivy concordam com a seguinte premissa: “Adapte a carreira ao projeto da parceria, não a família à carreira”. Essa conduta tende a facilitar as coisas, já que o histórico de divórcios é relevante. É aconselhável, inclusive, ter estabelecidos acordos, como a definição de uma conta conjunta, por exemplo. Lembre-se: o diálogo é, sempre, a melhor opção.

 

Inclusive, em setembro de 2021, Hélio Franchini e Ivy Turner lançaram, juntos, o livro “Um pouco de diplomacia”. Nele, eles compartilham suas experiências de carreira, ensinamentos adquiridos com colegas diplomatas – do Brasil e do exterior – e apresentam um livro com leis, regras e práticas que compõem o arcabouço de estudos sobre a diplomacia. De acordo com a sinopse do livro: “trata-se de uma obra modelo para quem quer ingressar na carreira diplomática ou para quem simplesmente quer matar sua curiosidade e conhecer mais sobre o mundo da diplomacia”.

 

Por fim, os filhos costumam ser uma grande preocupação para quem almeja uma carreira diplomática servindo ao Brasil em diversos países ao longo do tempo. Como pais de duas filhas pequenas, Hélio e Ivy acreditam que, por um lado, as crianças são muito maleáveis. Assim, não há muito o que ser adaptado inicialmente. Atualmente, eles moram na Colômbia. No entanto, esse estilo de vida pode, sim, gerar problemas de identidade, por não criar raízes e um sentimento de identificação. Os sacrifícios são mútuos, de cada indivíduo presente no núcleo familiar, e isso potencializa os efeitos da mudança, havendo a necessidade do comum acordo em todas as hipóteses.

 

De fato, uma carreira diplomática com cônjuge e filhos é um desafio e tanto. Se vale a pena? Essa, definitivamente, é uma resposta extremamente pessoal. Mas, para casos como o de Hélio Franchini e Ivy Turner, o esforço é gratificante. E você, já pensou se aceitaria encarar a diplomacia junto a uma família para acompanhar essa jornada?