Comentários à prova de francês do CACD 20/21

Comentários à prova de francês do CACD 20/21

Imagine que você treinou para correr meia maratona.

No dia da competição, na hora da largada, você descobre que vai ter que correr quase uma maratona e meia, isto é, praticamente o triplo da prova para a qual você se preparou.

Como a largada já foi dada, só lhe resta correr.

Assim foi a versão da prova de francês do CACD 2020, aplicada em 2021. 

Mari, socorro! a banca pode mudar a extensão da versão assim, sem avisar nada?

Pois é, não só pode como tem feito isso todo ano, basta conferir o quadro a seguir: 

2020 Versão: 629 palavras
2019 Versão: 228 palavras
2018 Versão: 321 palavras
2017 Versão: 248 palavras

 

Dito isso, a banca pegou bem pesado: o texto a ser traduzido para o francês na prova de 2020 tinha 629 palavras, 401 a mais que o da prova de 2018. Certamente, fora da curva, mesmo de uma curva tão cheia de altos e baixos quanto a da nossa prova.

Sem exagero, foi um desafio às leis da física, não apenas em termos de tempo, mas também de espaço: se o rascunho não é uma opção, rasuras são inevitáveis, certo? Até aí, tudo bem; o problema é que a folha de resposta tinha “apenas” 70 linhas. Mesmo recorrendo à letra microscópica de PI e HB, pode ter sido meio apertado, ou seja: nem o caderno de resposta estava preparado.

Como é que a pessoa se prepara para uma coisa dessas?

Aí é que está: o imponderável cai na prova. Faz parte, sempre fará. Um aluno/amigo comentou que, se eu tivesse preparado um simulado parecido com essa prova, ele teria me chamado de louca- com toda razão!

QUANDO (e não SE) o imponderável aparece no seu caderno de prova, o que salva é fazer funcionar o que você construiu ao longo de uma preparação criteriosa. Se você se preparou bem para a prova, se você formou uma base robusta de gramática, ortografia e vocabulário e construiu reflexos para lidar com a situação de pressão no piloto automático, você vai saber o que fazer na hora.

O que define aprovação em francês é o básico: pronomes, artigos, preposições, concordância, sim, o estudo nada glamuroso que não se constrói da noite pro dia… são esses conhecimentos que pesam na balança na contagem de nota e dão a segurança necessária para funcionar na base do instinto e do reflexo em condições de prova. Moral da história: invista e confie no seu treino!

Moçárabe, mourisco, abássida, califado… como é que faz quando cai uma palavra dessas?

Mantenha a calma e não se abale! Eu sei, nada fácil quando você está ali fazendo aquela versão que parece não terminar nunca, mas acredite: não são as palavras insólitas que vão decidir sua aprovação. 

Era bem mais importante saber, por exemplo, como é que se identifica século em língua francesa, conhecimento que foi cobrado nada menos que nove vezes. Mais prosaico ainda: estar em dia com as terminações -AL/-EL, -ALE/-ELLE, para dar conta de tanto” ocidental”, “cultural”, “intelectual”, “pontuais”, “manuais” … percebe que esses detalhes chamam muito menos a atenção, mas pesam muito mais na contagem de pontos?

Cá entre nós: nem meia dúzia de gatos pingados, no Brasil inteiro, vai acertar essas palavras insólitas em condições de prova.

Quer ver só? Confira o Guia da Esperança Equilibrista para recordar como os diplomatas aprovados tiveram dificuldade com as palavras “interétatique” e “intergouvernemental” em 2019, termos bem mais razoáveis no contexto do CACD. Normal: às vezes, mesmo sabendo, na pressão, você esquece um acento, erra uma consoante dobrada…e nem por isso deixa de passar!

Será que agora a versão vai passar a ser sempre assim? 

Não necessariamente; pelo nosso quadrinho, vemos que a extensão das versões não chegou a seguir um padrão, variou para mais e para menos. Portanto, nada impede que volte a variar. Aliás, é normal que as provas mudem, elas não têm que ser “gravadas na pedra”.

Será que as notas vão despencar?

Calma, vamos aguardar o final do processo. 

Devido à pressão de tempo, a quantidade de erros tende a aumentar para todos, então as notas devem ser mais baixas- mas temos que esperar as notas preliminares E as respostas aos recursos.

Trabalho com isso há cerca de dez anos, posso afirmar que a prova de francês não teve uma evolução linear. Mudanças no padrão de correção são constantes, todos os anos mesmo! Isso significa que, mesmo com provas semelhantes, as notas podem variar muito de um ano para o outro, ou mesmo, em um mesmo ano, de uma questão para outra.

Lembro de uma aluna da turma do IDEG que me perguntou: “Professora, mas onde é que está isso no edital?” Não está em lugar nenhum!  É preciso acompanhar, ano a ano, espelho a espelho, todo o processo.

 Já tivemos uma variação intensa em 2018 na prova de francês, no estilo da prova de inglês deste ano. Houve dois casos de candidatos que tiraram 25/25 no resumo e zero na versão de 2018, casos de candidatos que tiveram cerca de 10 penalizações no resumo e mais de 100 na versão (sim, a mesma pessoa!) …a boa notícia é que, em muitos casos, foi possível reverter as penalizações. Em 2017, as notas foram atribuídas em espécies de “faixas”, sem contagem de pontos por número de erros. 

Atualmente, o processo é mais claro e fácil de entender: em 2019 tivemos, pela primeira vez, marcações na folha de resposta para saber exatamente o que havia sido penalizado, conforme a contagem estipulada pelo edital. Depois dos recursos a gente continua essa conversa.

E o resumo, como fica?

A conta é simples: se a versão, cuja extensão você não controla, toma muito mais tempo do que você esperava, esse tempo vai sair do resumo, cuja extensão você controla. Sim, essa decisão tem que ser tomada na hora da prova. 

Uma pergunta que sempre fazem é: como devo treinar a divisão do tempo de resolução de prova em casa? Sempre respondi: DEPENDE do que vai aparecer nos cadernos de prova dos dois idiomas. Este ano, por exemplo, estavam ali no outro caderno de provas, esperando por você, o galã gamenho da terceira idade de Machado de Assis e a Frida Kahlo do terror, mas essa parte da história quem vai contar é a Cris Huffel.

O tempo total disponível é de quatro horas, que devem ser divididas entre francês e espanhol, mas isso não deve ser interpretado como duas horas para cada idioma ou uma hora para cada questão.  Não é possível tomar essa decisão antes de saber o que vai ser cobrado nas duas provas; essa é a grande lição que podemos tirar da prova de 2020.

Quem for mal em francês está fora do páreo?

Não necessariamente. Essa é uma diferença crucial em relação à prova de inglês: a nota de francês é apenas classificatória, não eliminatória. Vai depender da soma de todas as demais notas da terceira fase. Vejamos o que diz o edital:  

7.5 Aprovação na Terceira Fase

7.5.1 Serão considerados aprovados na Terceira Fase os candidatos que tenham alcançado nota

mínima de 360,00 pontos na soma das pontuações obtidas nas seis provas.

7.5.2 Os candidatos não aprovados na Terceira Fase, na forma do subitem 7.5.1 deste edital,

serão eliminados e não terão classificação alguma no concurso.

 

Por enquanto é só, pessoal. Continuaremos a conversa depois dos recursos, quando tivermos a informação completa. Abraços e bons estudos!

Mariana Lima