Fundamentos da Preparação – Economia 1
*prof. Marcello Bolzan
Este é o primeiro capítulo de um conjunto de escritos que compõem a série “ECONOMIA ELEMENTAR para o CACD”. O assunto tratado é de extrema importância e um dos que mais geram confusões para os alunos: as diferenças básicas entre os pensamentos ortodoxo e heterodoxo na economia. Obviamente, não se esgotará o tema aqui. Porém, existe uma diferença básica e fundamental que produz concreta compreensão.
O elemento fundamental que diferencia os pensamentos é a forma como os pensadores notam o “equilíbrio econômico”. Esse será atingido, na teoria, quando o número de agentes dispostos a ofertar um produto (ou seja, dispostos a transformar a natureza em que vivem para buscar ali utilidade material) for igual ao número de agentes dispostos a demandar o produto (em outras palavras, dispostos a absorver o bem-estar gerado pela transformação da natureza). A igualdade de “vontades e virtudes” leva o sistema econômico ao equilíbrio em que esforços de produção e de absorção se tornam idênticos.
Para os chamados ortodoxos, essa estabilidade se faz de forma natural. A dinâmica de absorção (revelada pela demanda dos agentes) se torna infinita. Portanto, para qualquer nível de oferta sempre haverá uma correspondente demanda. Tudo aquilo que se mostrar como transformação da natureza e gerar bem-estar será demandado naturalmente. Portanto, para qualquer ponto de oferta, ter-se-á a dinâmica correspondente da demanda. Demanda e oferta, pois, serão sempre iguais e a economia naturalmente estará equilibrada.
Em aspecto diametralmente oposto de argumento, encontram-se os heterodoxos. Para esses pensadores o equilíbrio econômico não é natural. O argumento é a inexistência completa de infinitude da demanda. Os agentes demandam de forma efetiva e possível, e não infinitamente. Portanto, é possível, em certo momento, não haver capacidade de absorção de totalidade da produção. Ou o sistema de demanda se mostra saturado ou incapaz, contextualmente, para realizar a absorção. Portanto, muitas vezes, justifica-se a presença do governo como força motriz ao equilíbrio. Demanda e oferta não estão equilibradas naturalmente para esses pensadores.
Essa diferença é fundamental para a compreensão de inúmeros modelos econômicos e decisões sobre a política econômica na história. Uma base sobre a qual muitos outros conhecimentos devem ser construídos. Adam Smith, David Ricardo, David Hume, Marshall, Marx, Maltus, Keynes, Friedman, dentre muitos outros teóricos se debruçaram na teoria ao longo de mais de dois séculos em busca de maior compreensão dos fenômenos advindos do equilíbrio econômico.