Por que precisamos de cursos teóricos?
PROFUNDIDADE E NECESSIDADE: CURSOS TEÓRICOS EXTENSIVOS!
Há coisas que só o tempo é capaz de ensinar. Demorei um pouco até perceber que me preparar para o CACD exigiria de mim muito mais que vontade e uma lista com metas a serem riscadas. Um edital extenso e denso pelo qual esperamos todos os anos (e agora finalmente me incluo nesse composto) não pode ser negligenciado, tampouco vencido e enfrentado apenas com leituras. Nos moldes atuais, penso que, sem um professor, é bastante difícil atingir bons níveis de competitividade. O CACD é competitivo. Negar isso é negar também a natureza fática deste concurso. É claro que, mais uma vez, devo ressaltar que este é um texto de opinião (opinião de um candidato livre).
O prólogo não é extenso. O que venho dizer é mais simples do que parece. Imagine que você queira muito alcançar um objetivo, e que esse objetivo exija de você a reunião de uma vasta e aprofundada habilidade. Você sabe também que, para aprimorar essa habilidade, é preciso percorrer caminhos (alguns mais longos que outros). É possível partir de um ponto confortável da estrada e não parar para descansar em cada sombra de árvore ou leito de rio que apareça. Nessa opção, você deve estar consciente de que a linha de chegada pode parecer mais próxima. Você percebe, no entanto, que talvez não consiga chegar lá no mesmo dia: a noite cai e o clima esfria demais para seguir. Você descobre também que armazenar algum alimento e água é condição necessária para continuar, mas você não o faz. É preciso retornar no dia seguinte, após dormir um pouco, até que o sol apareça outra vez, e assim ser possível colher alguns frutos que ficaram para trás. Sem eles é impossível progredir.
É possível também partir de um ponto mais íngreme da estrada, que te cansa mais, que de você exige mais. Nesta rota há mais árvores de sombra e leitos de rios com água fresca. Você pode parar diversas vezes para descansar e colher alimentos para sustentar a jornada. Nessa opção, você deve estar consciente de que a linha de chegada pode parecer mais distante. Você percebe, no entanto, que fazer pausas para o descanso acaba por te beneficiar, e que armazenar alimentos sustenta a jornada por mais tempo. Você não precisa retornar no dia seguinte para refazer caminhos e percorrer trajetos já vivenciados anteriormente: daqui para frente, o que importa é o exercício das habilidades adquiridas. É verdade que, vez ou outra, dois passos para trás e um para frente são necessários no intervalo breve, mas, de todo modo, fazer na estrada o que tem de ser feito é um ponto importante para se chegar ao fim dela.
Há coisas que se fazem compreender melhor quando ilustradas. É exatamente assim que penso minha preparação. Durante os sete meses em que estou imerso nas atividades do CACD, percebo o quanto é importante ter ao seu lado um professor a longo prazo. De forma geral, os cursos teóricos extensivos são capazes de consolidar e reunir uma série de informações e conhecimentos dificilmente sumarizados por quem não entende como a banca pensa. Refiro-me a nós mesmos, candidatos, iniciantes e intermediários, ainda sem autonomia para filtrar e escolher leituras. É preciso deixar de lado a vaidade de dizer que você leu sete ou oito autores diferentes para compreender Brasil Colônia, ou que você se debruçou por dois meses inteiros (que loucura) no estudo de um livro enorme para o entendimento da configuração territorial da América Portuguesa. A realidade é bem mais acinzentada que parece, e se você ainda pensa que ler vários autores diferentes vai te colocar próximo das pontuações exigidas ou te fazer mais erudito, talvez você ainda não esteja entendendo muito bem como a banca cobra um ou outro tema.
Parece arrogância um candidato iniciante como eu dizer coisas como: “entenda a banca”, afinal, ainda não fui a ela submetido. Mas é possível apreender rápido alguns pontos de reflexão com bons professores. Vou exemplificar.
Meu professor de História do Brasil, Luigi Bonafé, é bastante didático e muito claro quando destaca a importância de se ler História do Brasil, de Boris Fausto, para temas específicos da prova. Literalmente, há questões dos últimos anos copiadas dos textos do autor (não uma ou duas, mas várias). Você pode verificar o que estou dizendo e tirar suas próprias conclusões nesse link. É importante entender que não há muitos livros (para não dizer nenhum) escritos e pensados para o CACD. História do Brasil (Boris Fausto), História da Civilização Ocidental (Edward Burns) são obras escritas para contextos não inseridos no Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata, mas que servem à banca com certa frequência na elaboração de questões (e muitas vezes com grau refinado de compreensão).
Minha professora de inglês, Selene Candian, é também muito clara ao destacar que o estudo de vocabulário em língua inglesa para o CACD não está (e não pode estar) dissociado do estudo de gramática. Aprendi que as palavras têm significado e função potenciais que se realizam no texto. Essas potências realizadas em texto da norma culta fazem total diferença em uma prova cujo nível exigido do idioma é altíssimo. A prova de inglês não avalia apenas a fluência escrita, a competência tradutória e a competência de síntese do candidato, mas sobretudo se este o faz com idiomaticidade, ou seja, como um nativo de língua inglesa o faria. Há também determinadas regras, como o uso do definite article “the”, por exemplo, que sofrem diferentes interpretações por gramáticos. Qual gramático(a) você deve escolher para orientar seus estudos na aplicação do “the” antes de nomes de países, por exemplo? Escolha sempre o que a banca avaliadora determina como correto, pois é ela quem você deve convencer. Mais uma vez: vaidade nos estudos para o CACD importa pouco e pode ser prejudicial.
Outro exemplo no contexto da prova de língua inglesa é o uso de combinações tradicionais de palavras (collocations e colligations) na redação de textos em norma padrão. A professora Selene sempre diz que é preciso pensar acima do nível das palavras, e não apenas dentro de seu significado genérico. Para isso, não basta decorar uma lista com mil palavras e expressões inglesas se você não for capaz de entender que algumas preposições são regidas por certos e determinados substantivos, ou que alguns adjetivos não são “fortes” o suficiente para qualificar alguns nomes, ou ainda que não basta se fazer entender para a banca examinadora, mas sim se fazer entender como um nativo faria. É preciso também compreender que palavras se comportam de diversas maneiras, e registrar esse comportamento em seu estudo de vocabulário é essencial. Você pode verificar o que estou dizendo e tirar suas próprias conclusões nesse link. Parece não ter fim a argumentação, mas o ponto que quero atingir ainda é simples.
É preciso se perguntar: partindo da minha própria experiência, sou capaz de avaliar quais textos são interessantes e relevantes para as provas de História, Política Internacional, Geografia (…)? Sou capaz de aferir e dizer que um livro ou um artigo são dispensáveis? Sou capaz de assimilar tudo que preciso, com a devida profundidade, em um intervalo de 12 meses? Um verdadeiro sopão de letras com todas as disciplinas para alguma fase específica do concurso vai me ser útil como penso ou como me dizem? Consigo entender, de forma idiomática, as regras aplicadas às correções das provas de línguas do CACD? Posso fazer isso sozinho, tropeçando sempre, ou devo fazê-lo no longo prazo, com a devida profundidade, ao lado de professores que trabalham exaustivamente para compreender a prova há mais de uma década?
Os cursos teóricos extensivos foram, sem sombra de qualquer dúvida, minha virada de chave dessa preparação. Sou grato por ter sido capaz de perceber essas necessidades logo no início e evitar perder muito tempo com retornos incessantes a conteúdos não sedimentados. Vou repetir o que venho dizendo: o CACD é uma única prova; prepara-se para uma única prova. O estudo extensivo pode possibilitar a preparação tanto para a fase objetiva quanto para as fases discursivas. Em matéria de conteúdo, é preferível se dedicar ao aprofundamento logo no início da preparação e potencializar suas compreensões com correções objetivas e discursivas. Sua preparação vai te custar tempo, inevitavelmente. Você precisa escolher de que maneira pretende investir esse tempo e, consequentemente, o dinheiro que vai subsidiar sua preparação.
Minha proposta com essas reflexões é muito sincera: sou um candidato como você. A caminhada é solitária, mas podemos dividir esse tempo em que caminhamos juntos. O CACD é para todos e pode ser trilhado das maneiras mais diversas e plurais. Minha pretensão não é de traçar um caminho de excelência a ser seguido, pois ainda não pude testar hipóteses. Sou um candidato em busca da melhor maneira possível de ser aprovado no CACD. O que funciona para mim hoje, não necessariamente funcionou há sete meses ou funcionará pelos próximos dois anos. Por fim, deixo claro sempre que, atualmente, sou funcionário do IDEG e, por isso, minhas opiniões não estão isentas de percepções, sobretudo em relação aos professores. É impossível expressar uma opinião absolutamente neutra depois do contato e da imersão na matéria sobre a qual se discorre. O distanciamento entre o objeto e o observador, no entanto, não significa sinceridade ou honestidade. Vocês podem e devem extrair de opiniões como estas o que fizer sentido para a preparação de vocês. Espero ter conseguido contribuir minimamente com o que tenho aprendido
Rafael Vias Boas
Cacdista