Plano Real: Uma questão de preço
Confira artigo do professor Marcello Bolzan sobre o Plano Real e complemente o seu caderno de estudos para o CACD!
Plano Real
No dia 1º de julho de 1994 ganhava as casas bancárias do Brasil uma nova moeda: O Real. Após mudanças constantes na base monetária – em uma enxurrada de reformas acumuladas desde 1986 – o Cruzeiro Real (editado em 28 de julho de 1993) é substituído pelo Real.
A nova moeda trazia consigo um valor substancialmente alto. Inclusive, compatível ao dólar e corrigido por mais três índices de inflação acumulados. A busca incessante da realidade monetária ou, de forma mais simples:
“A busca pela demonstração de que preços e valor real dos bens devem ser convergentes e não divergentes.”
Como já pronunciava (e antecipava de certa forma) o discurso de André Lara Resende e Pérsio Arida (solução Larida) é colocada de forma direta e imperativa naquele momento.
Entender o Plano Real é entender uma época, certamente. Evidentemente, sua história não pode ser resumida a poucas palavras. É preciso muito mais do que meras páginas para se conhecer a importância desse plano econômico que recolocou a economia brasileira nos trilhos, após mais de uma década de hiperinflação. Porém, o cerne do plano reside em uma constatação muito básica sobre o contexto inflacionário da época… E extremamente difícil de ser modificada: os agentes econômicos, quando submetidos a um contexto de elevação intensa de preços, passam a “descolar” o valor das mercadorias de seus preços.
Desse modo, os preços não mais refletem a utilidade dos bens.
Explico o caso fazendo uma simples pergunta: Por que você leitor ou você leitora se submete a pagar o preço de um produto qualquer que queira comprar?
A resposta pode ser mais ou menos filosófica de sua parte, mas certamente recairá na constatação de que você “paga o preço porque julga que esse VALOR é compatível ao bem-estar que aquele produto comprado lhe trará”. Ou seja, você paga o preço de um vinho porque acha que vale o bem-estar auferido no consumo desse bem.
O que foi colocado acima, indica que o preço deve minimamente refletir a utilidade obtida na compra do bem. Caso contrário, não faz sentido comprar nada. No entanto, momentos antes do Plano Real, essa relação lógica simplesmente não existia. O brasileiro vivia em um país no qual os preços subiam rigorosamente todos os dias. Não sei se você já parou para pensar no que isso representa, mas é assustador. Seria o mesmo que dizer que o preço do vinho aumentava todos os dias e o vinho continuava a ser o mesmo vinho. Interessante, não é? Como podem os preços subirem, se a utilidade do bem continua a mesma? Por que pagar sempre mais em algo que é sempre a mesma coisa? O bem-estar gerado pelo vinho não aumentou, mas o preço sim.
Unidade Real de Valor (URV)
Foi pensando sobre essa questão que os principais economistas dos anos 90 encontraram uma forma bastante elegante de solucionar esse problema. Em 1993 e início de 1994, a equipe econômica criou uma cotação – baseada no dólar principalmente – para marcar o valor desse bem-estar dos produtos na economia: a Unidade Real de Valor (URV). Ou seja, pela URV, o vinho valeria sempre a mesma coisa, afinal, o bem-estar auferido no consumo desse bem é sempre o mesmo. Repare que a URV não é uma moeda é apenas uma unidade de conta.
Desse modo, os agentes econômicos quando efetivavam seus consumos percebiam algo interessante. O preço dos bens consumidos se alterava com a inflação, mas o valor ditado pela URV era sempre o mesmo. Obviamente, não demorou muito para que os contratos fossem indexados ao valor da URV. O que significa isso? Fácil. Significa dizer que a população estava deixando de aceitar a elevação dos preços na moeda nacional. Ou seja, apenas aceitava o contrato de compra se esse trouxesse o valor ditado na URV.
Em pouco tempo, o valor real passa a comandar a economia e a inflação dos preços vai caindo de forma acelerada. Claro, não faz mais sentido considerar mudanças de preços, se o valor real das mercadorias não se modifica. Os preços convergem para o valor indexado na URV.
Em 1º de julho de 1994, tal convergência se torna segura. A moeda nacional antiga é substituída pela nova moeda – Real – que traz consigo o valor da URV (pautada no dólar) e muitos outros indexadores. E nesse momento, a população brasileira assiste ao reencontro dos valores que representam o bem-estar com o preço dos bens e serviços ofertados.
Brilhante, né?
Então, isso é o mínimo que você precisa para começar a aprender mais sobre o Plano Real. Veja tudo o que rolou naquele momento importante no artigo do Nexo Jornal.
Bons estudos! Rumo ao CACD 2019!
Forte abraço,