
Inconfidência Mineira no CACD: De motim a mito
Inconfidência Mineira no CACD: de motim a mito
Quando o dia 21 de abril se aproxima, o nome de Tiradentes reaparece como símbolo da luta por liberdade no Brasil. Por isso, para quem se prepara para o CACD, a data representa uma oportunidade de reflexão crítica sobre os sentidos atribuídos à História. No entanto, a pergunta central continua: afinal, o que a Inconfidência Mineira representou de fato?
Para responder a essa questão, é necessário compreender o contexto, os interesses em jogo e a posterior construção do mito. Esses elementos são fundamentais para abordar com maturidade as questões de História do Brasil no CACD — especialmente na prova discursiva.
O que foi a Inconfidência Mineira?
A chamada Inconfidência Mineira foi um movimento de contestação à política fiscal portuguesa, ocorrido por volta de 1789, na então Capitania de Minas Gerais. Como consequência direta da crise da mineração, as tensões cresceram entre os colonos e a Coroa.
Não por acaso, o nome mais lembrado é o de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Contudo, o movimento envolveu figuras como Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, além de padres, poetas e militares — todos, em maior ou menor grau, vinculados à elite local.
“Efetivamente, o movimento conhecido como conjuração ou Inconfidência Mineira vai reunir cerca de 30 pessoas, principalmente membros da elite mineira.”
— Profª Natasha Piedras
Entre seus objetivos declarados estavam a independência da capitania, o fim do quinto e da derrama, o incentivo à agricultura, a criação de uma universidade e a formação de uma república. Em resumo, tratava-se de um projeto político local com aspirações reformistas.
O movimento era mesmo revolucionário?
De acordo com a historiografia tradicional, a Inconfidência Mineira estaria inserida no contexto das revoluções atlânticas, tendo sido fortemente influenciada pelo Iluminismo e pela independência dos Estados Unidos. Essa perspectiva, ainda que válida, não é suficiente. Abordagens historiográficas mais recentes alertam para os riscos de interpretar o movimento com base em conceitos anacrônicos, como “república”, “nacionalismo” ou “revolução”. Em muitos casos, o uso desses termos modernos distorce as intenções reais dos conspiradores.
“A composição social de ambos os movimentos [mineiro e baiano] é profundamente complexa. […] A posição social como determinante de um conjunto de ideias obscurece a diversidade dos debates.”
— Profª Natasha Piedras
Portanto, mesmo que a palavra “república” apareça nos documentos da época, ela não correspondia ao conceito político que se consolidaria apenas no século XIX. Da mesma forma, não havia entre os inconfidentes consenso algum sobre o fim da escravidão.
Como Tiradentes virou mártir?
Tiradentes foi o único dos envolvidos a ser condenado à morte. A execução teve caráter exemplar. Todavia, a transformação de sua figura em mártir da liberdade só aconteceu mais de um século depois, com a proclamação da República, em 1889.
Com isso, a construção do mito de Tiradentes cumpriu uma função política muito clara: fornecer à jovem república um símbolo fundacional — nacional, laico e heroico — capaz de rivalizar com os ícones do Império.
O que o CACD cobra sobre isso?
Na prova de História do Brasil — seja na objetiva ou na discursiva —, a banca do CACD valoriza abordagens críticas, fundamentadas e atualizadas. Dessa forma, compreender a complexidade da Inconfidência Mineira é fundamental.
É comum que a banca convide o candidato a:
- Comparar a Inconfidência Mineira à Conjuração Baiana;
- Avaliar a construção simbólica de Tiradentes;
- Questionar visões cristalizadas, como a ideia de que se tratava de um movimento revolucionário ou popular;
- Entender a tensão entre interesses locais e discursos universais.
Ou seja, dominar esse tema exige mais do que conhecer datas e nomes. É preciso articular narrativas, desconstruir simplificações e compreender os usos políticos da memória histórica.
Como estudar melhor esse tema?
Uma leitura fundamental é o Capítulo 13 do Volume 3 da coletânea O Brasil Colonial, de João Pinto Furtado. Como observa a professora Natasha Piedras:
“É um texto que traz uma crítica estruturada à leitura tradicional e ajuda a entender por que precisamos complexificar o olhar sobre esses movimentos.”
Para aprofundar esse tipo de análise com acompanhamento especializado, o curso teórico de História do Brasil do IDEG oferece uma abordagem completa, direcionada e sempre atualizada com foco no CACD.
️ Conclusão
Estudar a Inconfidência Mineira para o CACD vai muito além de conhecer um episódio histórico. É necessário refletir sobre:
- Como mitos nacionais são construídos e apropriados;
- Como a História é reescrita de acordo com os regimes políticos;
- Como a memória pode se tornar um instrumento de poder.
Compreender a trajetória de Tiradentes e sua posterior reinvenção como símbolo republicano exige olhar crítico e sensibilidade histórica — duas competências que fazem diferença na prova e na carreira diplomática.
Recapitulando — Pontos-chave para levar para a prova:
- A Inconfidência Mineira foi um movimento de elite, com pautas localistas;
- Não havia projeto claro de abolição da escravidão;
- O conceito de “república” usado não equivale ao moderno;
- Tiradentes foi elevado a herói apenas na República, como construção política;
- O CACD exige leitura crítica e historiograficamente atualizada.