Revisão: vale a pena?
Dentre as mais frequentes indagações de alunos e alunas está a “importância de revisar o conteúdo”. O(a) cacdista pode estar começando seus estudos ou estar em estágio mais avançado, dúvidas referentes a como conduzir da melhor forma a atividade revisional sempre aparecerão.
Irei comentar um pouco o assunto e tocar em pontos fundamentais. Porém, é preciso deixar claro que não se trata de método impositivo e padronizado. O objetivo é mostrar a importância do desenvolvimento de habilidades revisionais e indicar alguns possíveis caminhos. Um(a) leitor(a) atento(a) saberá adaptar o conteúdo deste texto ao seu cotidiano de estudo.
O Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) é formado por um dos conjuntos de provas mais complexos da Administração Pública. Perceba que usei os termos “mais complexos”, e não “mais difíceis”. Sob o ponto de vista da dificuldade, existem concursos bastante desafiadores, muito mais do que o próprio CACD.
Por outro lado, o processo seletivo utilizado pelo Instituto Rio Branco apresenta enorme complexidade, uma vez que é formado por provas objetivas e discursivas que demandam profundo domínio teórico dos temas presentes no edital e o desenvolvimento de habilidades muito específicas.
O desenvolvimento de competências específicas e a profundidade teórica exigida são, dentre outros fatores, responsáveis pelo tempo médio de preparação até a aprovação, algo em torno de 4 anos. Essa informação é fundamental para compreender a importância das atividades revisionais, afinal, seria impossível absorver, reter e lembrar-se de tantas informações em uma temporalidade tão ampla.
Por outro lado, a quantidade de atividades que um(a) estudante deve desempenhar no cotidiano da preparação, associada a outras demandas da vida adulta, torna a utilização de métodos muito complexos de revisão inviável. Logo, quanto mais simples for a dinâmica revisional, menos tempo você perderá e maior será a motivação.
Ao longo de minha carreira como professor e coordenador, ouvi muitas experiências de aluno(as), aprovados(as) ou não. Fazendo um balanço, o que vejo ser o método mais útil e eficaz em termos de revisão possui duas variáveis básicas: ações revisionais sequenciais e atividades revisionais pontuais.
Obviamente, estou pressupondo que o(a) aluno(a) foi cuidadoso(a) e construiu – ou está construindo – um excelente caderno, a partir da reelaboração do conteúdo visto em sala de aula no curso teórico ou lido nas diversas referências bibliográficas indicadas por docentes. Sem cadernos autorais, não há revisão. Sem reelaboração de conteúdo, não há estudo. Simples assim.
No dia a dia de estudo, é preciso manter a conexão entre as partes estudadas das matérias. Pode parecer algo trivial, mas essa demanda torna imperativa a prática de revisão do conteúdo prévio antes do estudo do conteúdo novo. Quando me perguntam sobre isso, indico a revisão de dois “conteúdos passados” para depois abrir o estudo de mais um tema da disciplina. Um exemplo hipotético: imagine que, nesta semana, você precise estudar o conteúdo “Mercado Cambial” dado pelo professor da disciplina Economia na aula 3. Antes de entrar de cabeça no conteúdo, seria muito interessante revisar os conteúdos das aulas 1 (Mercado de Bens) e aula 2 (Mercado Monetário). Para cada uma das aulas passadas (1 e 2), releia atentamente o caderno (se for o caso, reelabore algumas partes para que ele fique menor, sem perder conteúdo) e faça uma pequena lista de questões objetivas referentes aos temas (de provas antigas do CACD, por favor). Terminou? Agora, comece o estudo do conteúdo da aula 3. Assista à aula sobre Mercado Cambial e reelabore o que o professor ensinou e o que você leu sobre o assunto em seu caderno.
Na aula 4, repita o procedimento utilizando as aulas 2 e 3 como pontos de revisão sequencial. Se você gostou da ideia, normalize o processo revisional cotidiano. Apenas faça. Vai te ajudar, pode ter certeza.
Por outro lado, não adianta tratar apenas da variável sequencial para uma boa revisão. Você precisa estabelecer momentos específicos em seu cronograma para executar revisões mais amplas e retrabalhar seu material. Na verdade, não há uma regra quanto à temporalidade escolhida para essas revisões mais amplas. Depende muito da disponibilidade e da forma de estudo. Normalmente, alunos e alunas escolhem fazer uma revisão maior – em que vão retrabalhar o conteúdo de seus cadernos e fazer exercícios – a cada 3 ou 4 aulas (ou semanas). De modo geral, alunos(as) em estágio avançado de preparação dedicam um ou dois dias para esse trabalho.
Certo, mas qual o resultado esperado nas revisões pontuais? Imagine que você escolheu o terceiro sábado do mês A para fazer uma revisão pontual. Você deverá retomar o conteúdo dado nas aulas 1, 2 e 3 do curso de Economia. Lembre-se de que você já possui o caderno em que você reelaborou o conteúdo dessas aulas e leituras. Portanto, seu objetivo será criar um texto menor (texto em tópicos, mapa mental ou conjunto de flashcards), a partir de seu caderno, com as principais informações das três aulas. É isso mesmo: a arte de resumir o resumo. Se ficar muito extenso no começo, não há problema. Mas se esforce para reduzir ao máximo o tamanho do material. Além disso, trabalhe mais exercícios relativos aos temas.
No terceiro sábado do mês B, você deverá realizar outra revisão pontual. O conteúdo contemplado será referente às aulas 4, 5 e 6. Mas, antes de começar a trabalhar essas aulas – e aqui é a parte mais importante –, retome aquele material que você construiu na revisão do mês A. Leia atentamente o material, reelabore o que for possível e execute exercícios. Após essa retomada, aplique os procedimentos usados no mês A para as aulas 4, 5 e 6.
Seria interessante, nas revisões pontuais, que você estudasse o conteúdo contido nos textos (tópicos, mapas mentais ou flashcards) de dois meses anteriores.
Você deve ter reparado que a técnica aplicada às revisões sequenciais é exatamente a mesma aplicada às revisões pontuais. Exatamente por isso é tão simples. Você não precisa de grandes metodologias para construir uma excelente e encadeada revisão, capaz de manter a matéria “sempre aquecida em sua mente”. Colocando como “lei” em sua vida a ideia de não começar algo novo sem retomar duas estruturas passadas (seja aula a aula ou em revisões pontuais), você condicionará seus estudos de modo que a atividade revisional será automática. Não precisa pensar, basta fazer… condicionamento, entende?
Mas, professor, seguindo essas indicações, eu vou gastar dois terços dos meus esforços com revisão e apenas uma parte com o estudo de coisas novas! Então, deixa eu te contar uma coisa: o que te faz passar na prova não é a alta velocidade do estudo, mas justamente o contrário. O CACD demanda uma postura mais contemplativa em relação à teoria do que a maioria dos outros concursos. Portanto, quanto mais vezes você revisar o mesmo tema, maior será a chance de saber lidar bem com aquele conteúdo. É essa articulação o fundamento para a defesa de uma tese, a competência exigida em 80% das provas.
Portanto, devo dizer que “sim”… você gastará mais tempo revisando do que vendo coisas novas. E tudo bem. É um caminho seguro e efetivo para seus esforços. Minha sugestão é que você pense sobre essa questão do “tempo de preparação”. Dê menos importância às “soluções milagrosas”, aos que “vendem experiências” e aos “pacotes completos de cursos” e olhe diretamente a qualidade das fontes de informação e ensino.
Construa seu método de revisão. Eu lhe mostrei algumas possibilidades. Transforme o que achar relevante em técnica própria e descarte o que julgar exagero meu. Seja crítico(a), avalie o texto que você acabou de ler. Pegue destas linhas apenas aquilo que te representa e teste no seu ritmo.
Se tentar fazer isso, posso garantir que, no mínimo, você irá descobrir a importância da atividade revisional em sua trajetória. E já é muito. Será um ponto de inflexão em sua trajetória de estudos.
“Mas, professor, eu não quero ficar estudando sempre a mesma coisa, quero correr com meus estudos porque ouvi dizer que é possível fazer todas as matérias ao mesmo tempo e passar na prova mais rapidamente. Afinal, sempre fui excelente aluno(a).”
Bom, se for esse o caminho escolhido, ao menos tentei.
Marcello Bolzan
Professor e Coordenador do curso IDEG