A prova de Economia do TPS CACD 2020

A prova de Economia do TPS CACD 2020

Parecer sobre a prova de Economia do TPS CACD 202

Olá alunos, alunas e cacdistas,

Seguem alguns apontamentos sobre a prova de economia do TPS do CACD 2020 realizado no dia 13/06/2021.

De modo geral, a prova foi bem elaborada e, tomando como referência os quatro últimos certames, com dificuldade mais amena. Obviamente, isso não significa que a prova foi fácil. Apenas menos densa.

Além disso, o candidato e a candidata não devem olhar para a prova de Economia de 2020 como a única referência para os CACDs futuros. É conhecida a estratégia focalizada da banca, sobretudo no TPS. Disciplinas são mais leves em um ano e mais pesadas em outro. Portanto, é preciso ter em mente a preparação de longo prazo e garantir plena densidade de conhecimento.

Destaco que não encontrei nenhum tipo de espaço direto para a aplicação de recursos. Tal fato se deve, naturalmente, à dificuldade geral da prova. A banca simplesmente são se arriscou. Fez uma prova linear, inclusive com assertivas clássicas e muito semelhantes em estilo às de outros concursos.

Em 2020, o(a) cacdista topou com uma prova com um nível superior à média dos concursos efetivados em outras áreas, mas certamente inferior àquilo que se visualiza em certames da mesma envergadura de competição como Bacen, Senado, STN, etc. Uma franca perda de qualidade sob o ponto de vista técnico.

Novamente, trata-se da própria característica focal do CACD. Anualmente, matérias elevam a dificuldade e outras a reduzem. A partir do foco destaco um risco futuro importante: É comum a banca contrabalançar pesos das disciplinas entre as fases do concurso. Portanto, uma prova mais leve no TPS é um bom indício de profundidade nas fases discursivas.

Tomando como referência a prova de TIPO A, destaco alguns pontos que poderiam criar certa dúvida:

Questão 66
Questão sobre vantagens comparativas em comércio. De modo geral, uma das questões que gera trabalho ao cacdista, uma vez que traz em si a relação com a Curva de possibilidades de produção e estruturas de escala (custo de oportunidade e rendimento dos fatores). Posicionando a análise sobre a batuta dos pressupostos ortodoxos que condicionam a análise ricardiana é possível perceber que a fronteira de possibilidade de produção apenas seria linear e decrescente se os rendimentos estivem em escala proporcional, que o comércio e a produtividade focalizada em maior rendimento do fator trabalho levariam a uma expansão da fronteira entre as economias, que as funções de produção são distintas dada a distribuição estrutural de fatores e tecnologias no postulado clássico e que os ganhos de comércio são construídos ao longo da migração da produção até a aplicação ótima do fator trabalho em que a especialização finalmente ocorrerá.
Indicação bibliográfica: Economia Internacional. Renato Baumann e Reinaldo  Gonçalves. Nova edição revista e atualizada. Cap. 2, subitem 2.3 (Vantagens comparativas), pg. 10,11 e 12.

Questão 67
Questão mais ampla que centra a análise nas relações monetárias. O destaque certamente é o item 3, referente à Caixa de Conversão. A assertiva tenta confundir o candidato utilizando o termo “déficit comercial” no trato desse instrumento econômico (1906, no Brasil). De fato, inflexões e compensações nos saldos da conta corrente e da capital afetaram fortemente a Caixa de Conversão no início do séc. XX, como mostra o texto a Ordem do Progresso (Marcelo de Paiva Abreu, cap. 3, pg. 51 e 52). Porém, a Caixa de Conversão foi construída para estabelecer o padrão ouro de modo estável. Portanto, déficits seriam incompatíveis com as tendências de fixação e emissão da moeda nacional (como consta nas últimas três linhas da página 50 do livro supracitado).

Questão 68
O item 4 pode ser o que mais tenha causado insegurança. É preciso perceber que nem sempre mecanismos de transmissão fiscais ou monetários produzem efeitos sobre o saldo comercial, já que a relação câmbio-juros (queda na taxa de juros provocando uma desvalorização cambial) como mecanismo de transmissão sobre as exportações pode ser mitigada pelo aumento da renda (dada a expansão monetária) como mecanismo de transmissão sobre as importações.

Questão 69
Vale o comentário sobre os itens 1 e 2, porém, antes é importante dizer que economia intertemporal é pedida de forma residual em certames. Sobretudo o item 2, podemos dizer que essa é a cota da banca. Em vários momentos isso já ocorreu. Quem fez as provas anteriores deve lembrar de nomes como “Tobin” e “Baumol”. Então, foi a vez do Modgliani. Os dois itens versam sobre a relação poupança-consumo tomando como referencial a forma de renda (modelo de Friedman) e a temporalidade estrutural (modelo de Modgliani). Aquele indica que o consumo é determinando por outras variáveis para além da renda (como na visão keynesiana pura) e não são todos os “tipos/qualidade” de renda que promovem o consumo. Modgliani analisa a dinâmica de consumo e poupança a partir do ciclo de vida. Logo, jovens viveriam em despoupança, pessoas em meia idade em poupança e idosos em despoupança. O que coloquei aqui é uma análise muito simplificada de tudo isso, ok? Muito pouco acadêmica. Estou apenas indicando o caminho da questão.
Maiores informações: Macroeconomia. Olivier Blanchard. 7ª ed. Cap. 15 (Expectativas, consumo e investimento). P. 341-348.

Questão 70
Penso que não haja nenhum espaço para dúvida nessa questão de microeconomia.

Questão 71
Aqui é preciso tomar cuidado. Em momentos de pressão, é possível deixar passar alguns pontos importantes. O estilo de assertiva verificado no item 1, já caiu muitas vezes em certames. É bastante clássico. E quando pedido, normalmente, derruba pessoas. É preciso perceber que o trânsito de papel-moeda e notas do tesouro ocorreu dentro do público bancário. Não houve relação entre publico bancário e não bancário. Logo, não há criação e nem destruição de meios de pagamento. A estratégia da banca foi confundir o candidato misturando a dinâmica da política monetária expansiva.

Questão 72
Para tratar dessa questão era preciso lembrar que o desemprego natural indica o pleno emprego dos fatores e, portanto, representa o tempo de não ocupação entre cargos e que o salário mínimo contribui para o desemprego involuntário (fora do equilíbrio natural do mercado de trabalho na visão clássica). Por fim, a melhor assertiva da prova, em minha opinião, foi a referente à lei de Okun. Se a taxa de crescimento do produto zerar o hiato, a taxa de desemprego corrente será igual à taxa de desemprego natural. A economia estará no pleno emprego. Eu canso de alertar em aula: para concurso público o desemprego nunca é zero. Quando você ocupa todos os cargos disponíveis, o contingente não empregado corresponde ao desemprego natural (o velho Marx chamaria de exercito de reserva de mão de obra, em um certo sentido).

Questão 73
Penso que não haja muito espaço para dúvida nessa questão de História Econômica. O destaque é o item 3. Sempre há, por parte das bancas, a tentativa de enganar o candidato dando a entender que é absurdo, durante o Plano Cruzado, o déficit público aumentar em pleno combate à inflação. Porém, logo se percebe que não é estranha tal postura, afinal o diagnóstico inflacionário era heterodoxo e completamente focado na inercialidade.

 

Por Prof. Marcello Bolzan