A história da preparação por Luigi Bonafé

A história da preparação por Luigi Bonafé

Está começando a estudar para o CACD?

Conheça a história da preparação contada pelo prof.: Luigi Bonafé.

Quase dez anos atrás, eu dava aula no maior cursinho do mercado de preparação para o CACD à época. Era quase um monopólio. Por isso mesmo, todos os outros cursinhos seguiam mais ou menos o mesmo padrão de preços, modalidades de cursos e carga horária. Era aquela coisa de condensar em vinte e poucas aulas de 1h30 tudo o que caía de mais importante no concurso.

Não dava tempo, é claro. Mas aí, depois do curso “regular”, vendia-se um “avançado”. Que também não era suficiente, porque tinha a mesma carga horária reduzida. Então, para os poucos felizardos que conseguiam chegar às fases finais do concurso antes de falir, tinha ainda um tipo de turma exclusiva: franqueada apenas a uns poucos felizardos, era vendida como a cereja do bolo da preparação. Ali supostamente aprendiam-se os (também supostos) segredos não apenas do que escrever, mas sobretudo de COMO escrever.

Era como se houvesse uma fórmula secreta, uma maneira de articular as palavras de modo tão (supostamente) eficaz que dava até pra gabaritar uma questão discursiva sem dominar o conteúdo. Bastava saber escrever “como diplomata”, aparentando erudição e citando os nomes certos nos momentos certos. Tipo um pó de pirlimpimpim. Era caro, mas no final do arco-íris tinha um pote de ouro. Um não, vários: vendia-se o sonho da felicidade garantida a cada nova lotação no exterior. Mais importante que isso: vendia-se um sonho, pintado como impossível, mas que agora se podia realizar por meio de um milagre que só os iniciados conheciam.

Não era um modelo pedagógico original – se é que poderia ser classificado de “pedagógico”. Tudo, da estrutura das aulas até as estratégias de marketing, fora mimetizado de um famoso cursinho pré-vestibular, de onde copiavam-se, na cara dura e nos mínimos detalhes, as práticas monopolistas “masterizadas” ao extremo. A principal delas consistia em dar “de graça”, às vésperas das provas discursivas das fases finais do concurso, “bolsas” que ninguém precisava pedir. O próprio cursinho tinha uma equipe especializada em identificar e recrutar os melhores alunos de todos os cursinhos concorrentes, de todos os outros estados. Mas, como todos nós viríamos a aprender com o Google, se o serviço é “gratuito”, o preço é você. Depois de aprovados, todos (mesmo aqueles formados em outros cursinhos e recrutados apenas nas semanas finais antes da última prova) engrossavam a estatística de aprovação que o cursinho martelava durante todo o ano seguinte, atraindo incautos dispostos a pagar uma fortuna pelo milagre prometido. Era tão caro que compensava todo o prejuízo das bolsas não solicitadas e ainda financiava os 2 anos seguintes.

Aí veio a realidade: acabou a era das 100 vagas. A competição aumentou, a qualidade dos candidatos também, o nível de cobrança da prova idem.

O concurso para diplomata profissionalizou-se, ainda que a passos de cágado.

E, vagarosamente, foi começando a ganhar espaço um tipo de curso esquisito: numa salinha minúscula e de infraestrutura precária, sem quase nenhuma propaganda (além do velho boca a boca), com professores formados pelo próprio coordenador, com aulas de 3 horas, nome pouco usual no mundo da preparação ao CACD e o triplo da carga horária, mas por 1/3 do preço… e sem seguir nenhum “padrão” estabelecido no mercado. Minha primeira impressão foi de que nem sequer sabiam o que estavam fazendo.

Mas, pouco a pouco, cada vez mais alunos começaram a fazer aulas nos dois cursos. Ou seja, as pessoas que já gastavam muito dinheiro pagando um cursinho caro começaram a gastar um pouco mais de dinheiro para fazer também o cursinho comparativamente “barato”. Era o IDEG (sigla cujo significado eu ignorei por muito tempo…).

Anos depois o Bolzan me chamou pra conversar. Antes de falar de salário, ele me apresentou o que chamava pomposamente de “proposta pedagógica”. Aquilo tinha cheiro de naftalina, porque me remetia a aulas via de regra medíocres que eu tive na licenciatura. Desdenhei. Mas me deixei escutar por 30 minutos. E fez TODO o sentido.

Comecei a conversar com alunos que tinham frequentado aulas nos dois cursos. Os relatos eram unânimes: de fato, havia ali cursos verdadeiramente estruturados a partir de algo digno de ser alcunhado de proposta pedagógica. E que a cada ano vinha mostrando ser mais eficiente na preparação de aspirantes a diplomata – apesar de as estatísticas do cursinho monopolista projetarem uma enorme sombra em cima do fenômeno.

Passaram-se mais 5 anos e os números comprovaram de forma cabal: sem recrutar candidatos “prontos” para dar algumas poucas aulas “de graça” em troca de estatísticas, os cursos extensivos de formação teórica do IDEG consolidaram um novo padrão de mercado. São aulas que somam algo em torno de 110 horas, ao fim das quais algumas várias “gerações” de aprovados sentiram-se preparados para seguir adiante, porque tomaram pé de todos os conteúdos do Edital sem correria, sem enganação e sem milagres.